"Então, Ana!? Como é que não te lembras da tia Augusta?"
Basicamente porque nunca vi a porra da tia Augusta! Porque passaram-se Natais, aniversários, férias escolares, momentos felizes, momentos tristes, gargalhadas que fazem doer a barriga e ataques de choro que fazem doer a cabeça e nunca, em momento algum, o raio da mulher esteve presente!
Só para desmistificar a coisa: não tenho nenhuma tia Augusta. Ou talvez tenha, já que parece que a minha família cresce como uma erva daninha. A frase serve apenas para demonstrar o que já ouvi inúmeras vezes sobre tias/os, primas/os, e tudo o que mais valha.
A MINHA família não se define por laços de sangue ou por genes similares - ainda que por vezes estes factores coincidam.
Para conhecer a minha verdadeira família não podem recorrer a laboratórios frios e testes complexos. Para conhecer a minha verdadeira família não podem recorrer a registos genealógicos empoeirados ou apelidos transmitidos de geração em geração.
Para conhecer a minha verdadeira família precisam de um almoço barulhento e variado, em que cada um traz um prato diferente formando uma mesa farta, completamente descoordenada e uma combinação estranhamente agradável que acaba por agradar a todos.
Para conhecer a minha verdadeira família precisam de ouvir as histórias, de ver os sorrisos, de ouvir as gargalhadas, de sentir os abraços e testemunhar a troca de olhares cúmplices.
Para conhecer a minha verdadeira família precisam de entender uma arte falada por muitos e conhecida por poucos. Aquela que faz meio mundo questionar-se e debater-se e dá aos poucos sortudos que a entendem uma paz de espírito indescritível: o Amor.